Lições Sobre a Consciência e o Destino

ago 5 • Ana Lúcia Maranhão, Textos • 1162 Views • Nenhum comentário em Lições Sobre a Consciência e o Destino

Foi há uns 25 anos atrás, mas podia ser ontem…

Era uma serra linda e estávamos agendados para passar o feriadão numa pousada lá no alto.

O dia estava ensolarado e pegamos a estrada até chegar ao pé da serra. Ah! Que serra! Cada plantinha, cada pequeno nascedouro de água, cada cidadezinha… E as pessoas… Ah! Essa gente linda e sabida! Tudo, absolutamente tudo nos encantou!

Parávamos em cada ponto, mergulhando e sorvendo cada minuto, cada centímetro, cada ser humano que encontrávamos plantando, vendendo, contemplando, sendo…

Você deve estar pensando que estávamos a pé, não é?

Não, não … Estávamos de carro, e mais parávamos do que seguíamos em frente…

E na hora do almoço, encontramos um restaurante bem agradável, com comidinha fresquinha caseira, feita pra nós, com direito a conversar com a dona e cozinheira!

Quando demos por nós, já estava escuro, totalmente escuro! E numa estrada de terra, escuro é escuro mesmo!

Não havia escolha: tínhamos que chegar a pousada. Não podíamos mais voltar e só podíamos ir. Para trás era o escuro, para frente, o escuro também… Melhor seguir em frente, pois o feriado nos esperava, não é?

Carro ligado, faróis acesos, e então se apresentou aquela estrada cheia de buracos, que dava voltas em torno das montanhas, com curvas bastante sinuosas, e penhascos, muitos e cada vez mais altos à medida que subíamos.

Os faróis estavam desregulados e já não podíamos ver além de 2 ou 3 metros à nossa frente. Como eu sei que aquela estrada era assim se eu não enxergava nada mais do que esta distância? Eu tinha visto, mas não enxerguei… Tudo tem seus dois lados, o claro e o escuro, o visto e o não visto. Só podíamos estar presentes, completamente despertos para o aqui e o agora, os sinais que vinham e nos acenavam o próximo passo.

Chegamos bem tarde da noite na pousada aonde íamos ficar… Ufa! Fomos acolhidos com sopinha, banho quente, cobertores, afeto… E acima de tudo SEGURANÇA! Segurança?!?

Ao clarear o dia… Toda a exuberância estava visível de novo e nos encantava usufruir, para bem à tardinha, sabiamente, nos recolhermos novamente para um teto com lareira quentinha…

Sempre me lembro desta aventura e faço uma analogia com a vida: a nossa consciência em comparação com a consciência maior.  Aquele farol desregulado, a nossa absoluta presença no presente para conseguir fazer a curva na hora certa e chegar ao destino final, que nós já havíamos vislumbrado, mas que agora, só tínhamos aquela visão restrita e pouco precisa do nosso entorno mais próximo.

Nos restava aquela sensação e a certeza de um propósito, mas naquele momento, só podíamos estar no aqui agora, presentes, inteiros, vivos e plenos na próxima curva, e o que nos movia adiante, nos deixava presentes, eram os sinais de cada passo, a necessidade de seguir, aquele farejar do propósito às cegas, apenas no presente do próximo passo: sobrevivemos!

O propósito deixava rastros a cada passo, a cada quilômetro alcançado. Todos os riscos e todas as certezas estavam ali… Não havia espaço para pânico ou falha… Havia apenas o presente e o propósito.

A forte sensação de estarmos vivos!

E você? Já viveu algo parecido? Aqueles momentos em que o tempo presente se expande… Onde somos tomados pelo presente, e todas as lições nos chegam, sem nem mesmo pensarmos sobre elas…

Esta foi a lição mais visceral que vivi sobre estar no presente e no aqui agora.

A lição ficou, e pude levá-la para os momentos de prazer também!

Grata!

Ana Lúcia Maranhão – Salvador, 02/01/14

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